segunda-feira, 16 de julho de 2012

Faltam onze dias

Mesmo exposto ao sol, sinto frio. Quatorze de Julho de 2012. Faltam onze dias...

Não há nuvens colorindo o céu e, ainda assim, o dia está cinzento como se estivesse em obras, manchado de cimento. Talvez seja em função da hora, pois, para um sábado frio de inverno, somente os obrigados, velhos e loucos estariam acordados. Enquadro-me na terceira categoria.

Daqui donde escrevo, o ar parece puro e as pessoas felizes. Um pássaro guina de três em três segundos. Não sei qual a raça ou espécie da ave, sou tão bom com pássaros quanto com a matemática, todavia o som muito me agrada (a matemática não).

Acenderei um cigarro, mesmo sem saber se onde estou é permitido fumar. Prefiro o uso da palavra permitido ao proibido, mesmo quando negadas. Não é permito fumar me parece muito mais educado que proibido fumar. Deveria ser proibido o uso da palavra proibido, ou melhor, não devia ser permitido...

Faltam onze dias e, como de costume, toda véspera é assim, a sensibilidade me devora e, meus instintos humanos, sejam quais forem, ficam a flor da pele. Reflito, principalmente, sobre meu papel neste chão e, como nos anos anteriores, desde quando me entendo por gente, nos dias que antecedem meu aniversário, fico deveras decepcionado comigo mesmo. Não fui o filho que deveria, o neto que poderia, o sobrinho que gostaria, o amigo que voltaria, o namorado que ela merecia, nem o artista que acreditava.

O ano passou e eu passei. É certo que aprendi e compartilhei algumas coisas, porém, pequeníssimas diante o tamanho dos meus sonhos, irrisórias frente tudo aquilo que acredito.

Sentado neste banco de concreto, admirando e respirando o pouco de natureza que restara de minha cidade natal, trago, calado, um cigarro amargo. Observo com olhos semicerrados o que está ao redor. O pássaro que, minutos antes, guinara de três em três, agora já não guina. O ar, cínico, finge ser puro e, as pessoas felizes.

Enquanto gasto a caneta neste pedaço de papel, busco refúgio à alma e, descaradamente, confesso-lhes o que sou e para onde vou. Cravo mais um dia na história e o segundo seguinte não existe. Ainda não sei se lerei uma história, se prosseguirei com a escrita, se tragarei outro fumo, se voltarei a minha casa, se visitarei meu irmão, se cantarei uma canção ou se inventarei uma oração. O segundo seguinte não existe...

Hoje, a única certeza a que tomo emprestado do universo, é a inquietação. Sim, a inquietação que, bem ou mal, fez-me chegar nesta linha e, caros amigos, se tocaram aqui também, estendo-lhes a mão. Afianço-lhes, é tudo que posso oferecer. Meu coração que, de quando em quando, está sangrando, não seria bom lugar para oferecer-lhes.

Fico por aqui (ou ali), sentado (ou de pé), calado (ou tagarela), escravo (ou liberto), assalariado (ou artista)... Fico por aqui (ou ali)...

André Henrique de Santa Fé

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