sábado, 13 de outubro de 2012

Senhor de Alcovas

Hoje, ao acordar, tive leve sensação de beliscar e tactear minhas confissões intrínsecas. Quem cá nunca se viu diante de tal? Então, como de costume, banhei-me lentamente, calcei-me da veste de sábado, passei um café ao amargo, passeei com as pontas dos dedos a empoeirada enciclopédia Delta. Há que confundir a alma, entorpecê-la.

Outro trago de café ao amargo. O frio, outrora tímido e discreto, está a urgir e se impõe como o senhor de alcovas, mandatário da situação vigente. Está para nos vestir e segregar as possibilidades. Nesta hora caio por mim e percebo o quão somos submissos ao tempo. É certo que vivemos a era da extravagância, estamos a plenos pulmões industriais, somo-nos a embarcação mais sisuda de todos os mares nunca dantes navegados, somo-nos, porém, uma matilha de cães raivosos a espera de réplica por parte do senhor de alcovas, o tempo.

Pergunto-vos! Quem cá nunca se viu diante de tal?

André Henrique De Santa Fé

segunda-feira, 16 de julho de 2012

O barco naufragado

A proa, confeccionada em madeira de caixote e em pano de retalhos, dava-nos a ligeira sensação de que podíamos, a qualquer hora, naufragar ou desaparecer para sempre naquela imensidão de águas, lendas, mitos e sonhos.

André Henrique de Santa Fé

Política

A política no Brasil é ‘ambidestra’, o que não é ruim. Ou melhor, em se tratando de BRASIL, é ruim sim, pois é um excelente mecanismo de confisco à oposição (se é que isso realmente existe) e de sustentação à falta de posicionamento.

Dé Sta Fé

Minha Canção

Por trás da teia
Tem a telha
E as estrelas

Por trás dos sonhos
Tem a fé
E o coração

Por trás do pai
Tem o avô
E a criação

Por trás do beijo
O desejo
E a sedução

Por trás de mim
Esta canção

Que faz de mim
Este refrão

André Henrique de Santa Fé

Pólen

Tão tênue o cordão que fende a alma do coração que, dissociá-los, seria tão improvável quanto um Ateu ultrajando a Deus em seu leito de morte.

André Henrique de Santa Fé

À minha amada Vó Dita

Minha alma nunca se cicatrizará. Aqui, alguém que levará vosso nome além das gerações. Esta é minha missão na terra.

Fragmentos de histórias da mulher mais rica que conheci. Ela quase não tinha dinheiro e morava numa casa muito velha...

Posso te sentir
Sentir teu cheiro
Te respirar no vento

Deus te tirou de mim
Já faz um tempo
E tudo o que sinto é falta

Ah, minha vó...
Sinto tanto
Por não termos tido mais tempo

Pra conversar
Ouvir histórias

Para aprender
Que só o amor
Persiste aos sofrimentos

...

Àquele pente no cabelo
A pequena sandália
Um vestido que é só teu

Teu riso que guardo comigo
Cada marca do teu rosto

Vó,
Estou tirando meu diploma
Serei professor tal qual a Senhora
Logo começo a lecionar

Ainda não aprendi a tabuada do ‘cinco’
Mas eu gosto de lembrar
E prometo não chorar

Doce Vó,
Se pudesse te poupar àquela dor
Trocar as injeções por beijos
Ir à casa da Éti e ficar com você

Doce Vó,
Desculpe te fazer chorar
No portão da casa da rua de terra
Quando à São Paulo devia de regressar

Ah, minha vó Dita,
Esta noite sonhei contigo
E tudo que gostaria, se dono do tempo fosse,
Era voltar à infância, pra sentir teu cheiro,
Bagunçar seu cabelo, te pedir dinheiro pra gastar no bar do Seu Zé,
Te escutar as histórias de quando teu pai te punha no colo,
Comer a linguiça frita no velho fogão e tomar água gelada da geladeira amarela,
E juro, não voltaria a São Paulo, pra nunca ter te visto chorar.

André Henrique de Santa Fé

Sol

O sol é o guerreiro da vida
A lua é sua estrela preferida
As nuvens são seus jardins suspensos
O vento é o seu relento mais intenso

O sol que nasce outra vez
Mesmo estando ferido...

No Tibete ou num harém
O sol que nasce outra vez...

André Henrique de Santa Fé

Sou o que sou

Se você está aqui, diante de mim, independente do grau de relacionamento, é importante que saiba quem sou eu...

Quando alguém me perguntar por que ando tão calado, direi ter aprendido com o Sol.

Ser forte ao ponto que todos me sintam,
Ser fiel para que todos possam em mim confiar,
Ser intenso ao ponto de haverem dias impossíveis de me aguentar,

E, principalmente,
Permanecer quieto,
Jamais calado,

Entendendo os sinais e desempenhando o árduo e sensível papel que, por DEUS, a mim foi confiado.

Tenho pedaços meus espalhados por aí,
Em corpos que toquei,
Em almas que amei,
Em cartas que assinei,
Em lugares onde andei,
Em canções que criei,
Em versos que cantei,
Em coisas que falei,
Em bocas que beijei,
E o que está por vir não sei.

Tenho fortes dores de cabeça,
Ouço todos os sons do mundo e, confesso-lhes, alguns, nem todos podem ouvir e, a isso, cabe à sensibilidade que, negada por mim diversas vezes, suplicadas e imploradas em orações que, desaparecessem da minha humilde vida, insistiram em me desatinar e desviar o norte o qual confiava. Hoje, próximo há completar 28 anos, tenho a deliciosa incerteza do que está por vir. Não tenho um real no banco, mas posso afirmar com a cara servida a tapa que sou o cara mais rico do mundo.

Amém.

André Henrique de Santa Fé

Sou maluco confesso

Estou certo que meu desequilíbrio mental é uma manifestação intrínseca e genética, na qual, inconscientemente (ou não), meu organismo e essência, rejeitam a tal conduta tida como normal. Não haveria graça uma vida muito tranquila e sem contestações. Bom dia! Que venha o Leão... estou pronto a combatê-lo.

André Henrique de Santa Fé

Faltam onze dias

Mesmo exposto ao sol, sinto frio. Quatorze de Julho de 2012. Faltam onze dias...

Não há nuvens colorindo o céu e, ainda assim, o dia está cinzento como se estivesse em obras, manchado de cimento. Talvez seja em função da hora, pois, para um sábado frio de inverno, somente os obrigados, velhos e loucos estariam acordados. Enquadro-me na terceira categoria.

Daqui donde escrevo, o ar parece puro e as pessoas felizes. Um pássaro guina de três em três segundos. Não sei qual a raça ou espécie da ave, sou tão bom com pássaros quanto com a matemática, todavia o som muito me agrada (a matemática não).

Acenderei um cigarro, mesmo sem saber se onde estou é permitido fumar. Prefiro o uso da palavra permitido ao proibido, mesmo quando negadas. Não é permito fumar me parece muito mais educado que proibido fumar. Deveria ser proibido o uso da palavra proibido, ou melhor, não devia ser permitido...

Faltam onze dias e, como de costume, toda véspera é assim, a sensibilidade me devora e, meus instintos humanos, sejam quais forem, ficam a flor da pele. Reflito, principalmente, sobre meu papel neste chão e, como nos anos anteriores, desde quando me entendo por gente, nos dias que antecedem meu aniversário, fico deveras decepcionado comigo mesmo. Não fui o filho que deveria, o neto que poderia, o sobrinho que gostaria, o amigo que voltaria, o namorado que ela merecia, nem o artista que acreditava.

O ano passou e eu passei. É certo que aprendi e compartilhei algumas coisas, porém, pequeníssimas diante o tamanho dos meus sonhos, irrisórias frente tudo aquilo que acredito.

Sentado neste banco de concreto, admirando e respirando o pouco de natureza que restara de minha cidade natal, trago, calado, um cigarro amargo. Observo com olhos semicerrados o que está ao redor. O pássaro que, minutos antes, guinara de três em três, agora já não guina. O ar, cínico, finge ser puro e, as pessoas felizes.

Enquanto gasto a caneta neste pedaço de papel, busco refúgio à alma e, descaradamente, confesso-lhes o que sou e para onde vou. Cravo mais um dia na história e o segundo seguinte não existe. Ainda não sei se lerei uma história, se prosseguirei com a escrita, se tragarei outro fumo, se voltarei a minha casa, se visitarei meu irmão, se cantarei uma canção ou se inventarei uma oração. O segundo seguinte não existe...

Hoje, a única certeza a que tomo emprestado do universo, é a inquietação. Sim, a inquietação que, bem ou mal, fez-me chegar nesta linha e, caros amigos, se tocaram aqui também, estendo-lhes a mão. Afianço-lhes, é tudo que posso oferecer. Meu coração que, de quando em quando, está sangrando, não seria bom lugar para oferecer-lhes.

Fico por aqui (ou ali), sentado (ou de pé), calado (ou tagarela), escravo (ou liberto), assalariado (ou artista)... Fico por aqui (ou ali)...

André Henrique de Santa Fé
Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | GreenGeeks Review